quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Night is day - Sérgio Godinho

Night is day

One day
winter arrives
morning is unaccompanied.
Night is day in another world.
   
The same way the mother of pearls close,
the victories to come
are torn on the palms of our hands.
We didn’t choose them by chance
but by chance they were the ones we chose.
   
Burst, grenade,

the conscience tells the suicide bomber.
But remember those others, give them


a cause: why does suicide strike
the ones without a cause?
   
Lost honour floats afar
no one reaches the shore with a valid wreck
to marry is out of the equation
here it is, the night without discount
or overdraft:
   
Before going, if in luck, to the moon
and thus showing
one goes to die in the sun,
as it will be.
Night is day in another world.

Noite é dia


Um dia
o inverno chega
desacompanha a manhã.
Noite é dia noutro mundo.
   
Tanto se fecham as madrepérolas
como se rasgam nas palmas das mãos
as seguintes vitórias.
Não as escolhemos por acaso
mas por acaso foram elas que escolhemos.
   
Rebenta-te, granada
diz a consciência ao suicida.
Mas lembrem-se dos outros, dêm causa    
aos outros: porque se matam
os que nem causa têm?
  
A honra perdida flutua por longe
com nenhum destroço válido se dá à costa
casar está for de hipótese
ei-la, a noite sem desconto
a descoberto:
   
Antes de ela ir, com sorte, à lua
e assim mostrar,
vai-se a morrer ao sol,
e desta feita.
Noite é dia noutro mundo.

©Sérgio Godinho, in O sangue por um fio, Assírio & Alvim, Lisboa 2009
©Translation by Ana Hudson, 2010

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