sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Como era simples o alfabeto do corpo e que fácil amá-lo


"[...] O perfume dos lilases, atingido aquele limiar de dor, que não sabemos mais se é física se é mental, apunhalava-a na tarde, naquela casa, outra. Não já a de outrora, onde se mirara no espelho das aparências. Arrogante, segura, vestida apenas da nudez da sua grácil adolescência, sem precisar de asas-braços para cantar a vida. O espelho devolvia-lhe, então, o seu corpo-lira, as suas formas de fruto enxuto, onda e concha, libertas na luz nocturna, que envolvia a sua carne de lua, amassada com azeitona. Um corpo de hastes e ramagens, fonte e braço de água. Margem de seda - longilínea e breve - tão apetecida! Como era simples o alfabeto do corpo e que fácil amá-lo: as formas, a textura, o odor secreto, o sabor salino e canela, o rumor latejante! Os cabelos, movimento na aragem da tarde ou algas de suor, nos ombros da noite. Mas como tocar e sentir, sob a mão, os soluços de sombra e a fragilidade nua e informe do ser? Tão fácil acalmar as sedes do corpo e tão difíceis as outras! O seu fogo estava para além do seu ventre, cavado, capaz de floração, as suas nascentes muito para lá das fissuras, labiais, do corpo. Havia nela sombras mais densas do que as do púbis ou mesmo que as do sol negro dos seus cabelos. Claridades mais luminosas do que a água batida pela luz. O rio das suas pernas era um curso limitado, mas a sua alma tinha caudais de sede, mais ansiedade e inquietação do que as do simples desejo. Coisas sem nome, que apelavam ao caldeamento e à fusão, mais ao êxtase do que ao orgasmo. O que era o amanhecer, lunar, das colinas do seio, comparado às profundidades, nocturnas, do que estava para além dos sentidos: as dormências do que não sabemos pelo olhar e pela metáfora e são tumultuar obscuro? E depois, como decidir, era a sede dela que ele bebia, ou a sua própria sede que acalmava e procurava estancar? O «outro» existe realmente ou somos ainda nós? [...]"

Luísa Dacosta, Na Água do Tempo: Diário


Se eu...-

Se eu tivesse um carro

havia de conhecer

toda a terra.

Se eu tivesse um barco

havia de conhecer

todo o mar.

Se eu tivesse um avião

havia de conhecer

todo o céu.

Tens duas pernas

e ainda não conheces

a gente da tua rua.

Luísa Dacosta

 
Luísa Dacosta, transmontana de nascimento, formou-se em Histórico-Filosóficas. No entanto, já na altura se interessava por literatura, tendo assistido a aulas de Vitorino Nemésio, Lindley Cintra e Crabbé Rocha. Traduziu obras de Nathalie Sarraute e Simone de Beauvoir, mas as suas maiores referências foram as mulheres, que emurchecem aos trinta anos, vivem e morrem na resignação de ter filhos e de os perder, na rotina de um trabalho escravo, sem remuneração, agredidas como animais de carga.
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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Julgamento Precipitado



Se alguém se banha rapidamente, não deverás dizer: «Não se saiu bem.» Melhor será que digas: «Foi rápido de mais.» Se alguém bebe muito vinho, não deverás dizer: «É um erro.» Melhor será que digas: «Bebeu muito vinho.» Antes de teres apurado a razão que levou alguém a proceder daqueles modos, como podes tu saber, em boa verdade, se alguém procedeu bem ou mal? E só deste jeito, ó caro, não correrás o risco de te pronunciar sobre situações falsas tendo-as como situações verdadeiras.
Epicteto, in 'Manual'


It is just as cowardly to judge an absent person as it is wicked to strike a defenseless one. Only the ignorant and narrow-minded gossip, for they speak of persons instead of things.
Lawrence G. Lovasik
 

It is harder to crack a prejudice than an atom.
 Albert Einstein
 

How easy it is to judge rightly after one sees what evil comes from judging wrongly!
 Elizabeth Gaskell
 
Do not judge men by mere appearances; for the light laughter that bubbles on the lip often mantles over the depths of sadness, and the serious look may be the sober veil that covers a divine peace and joy.
 E. H. Chapin
 

I think the hardest thing to overcome is judging yourself and being your own worst critic so to speak.
Nile Rodgers


I look to a day when people will not be judged by the color of their skin, but by the content of their character.”
 Martin Luther King, Jr.
 

Do not judge, and you will never be mistaken.
 Rousseau
 
Judge not, that ye be not judged.
 The Bible
 
It is well, when judging a friend, to remember that he is judging you with the same godlike and superior impartiality.
 Arnold Bennett
 
If you judge people, you have no time to love them.
 Mother Teresa
 

When you judge another, you do not define them, you define yourself.
Wayne Dyer

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Reconciliação dramática entre a doutrina católica e o ardor sexual




HERODÍADES é um dos três Prantos que Giovanni Testor escreveu. A morte de São João Batista e o desejo recalcado de Herodíades, é a obra que os Artistas Unidos divulgam em Lisboa. Trata-se de um ajuste de contas com a tradição de onde vinha, e de que nunca se afastara, o catolicismo. Quer a religião ingénua que a mãe lhe terá transmitido, quer a tumultuosa reflexão que os grandes artistas do barroco (e do barroco lombardo).




Testori, o autor das novelas que deram origem ao Rocco de Visconti, o tradutor de Rimbaud e de São Paulo, foi um dos maiores autores do teatro do século XX, propondo, no final da vida, uma reconciliação dramática entre a doutrina católica e o ardor sexual, o vitupério e a caridade, à procura do lugar “daquele que traz o escândalo”. E, pasmados, escutamos o seu combate com a linguagem, com o corpo, com a nudez da cena, com o espectáculo de feira, com a pobreza. Nas origens e em continuidade de tanta arte que se faz e se fez em Itália, sulfuroso, paradoxal, transpirado, sujo, lírico e ordinário, um teatro obrigatório. [adaptado de Artistas Unidos]



Ver texto A sujidade da palavra publicado no ípsilon AQUI

Giovanni Testori nasceu em 1923, em Novate, nos arrabaldes de Milão, e dizem as wikipédias, «in una família de fervente fede cattolica». E ele também católico, fé sangrando de dúvidas e intransigência, carne, desejo, sexo, tensões e arrependimentos, poeta, cronista, historiador de arte, romancista, dramaturgo, pintor também, foi inventando no teatro, na poesia, uma sua língua espaventosa e reles, esplendorosa, blasfema e ansiosa, língua confessa e dos arrependidos, a tumultuosa, macerada língua daqueles homens sujos, descalços, caídos na terra empoeirada, nus, frementes. (in Assirio e Alvim/blog).

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A Cada Virtude Corresponde um Vício

 

Habituo-me a só pensar bem dos meus amigos, a confiar-lhe os meus segredos e o meu dinheiro; não tarda que me traiam. Se me revolto contra uma perfídia sou eu, sempre, a sofrer o castigo. Esforço-me por amar os homens em geral; faço-me cego aos seus erros e deixo, indulgente ao máximo, passar infâmias e calúnias: uma bela manhã acordo cúmplice. Se me afasto de uma sociedade que considero má, bem depressa sou atacado pelos demónios da solidão; e procurando amigos melhores, acho os piores. Mesmo depois de vencer as paixões más e chegar, pela abstinência, a uma certa tranquilidade de espírito, sinto uma auto-satisfação que me eleva acima do próximo; e temos à vista o pecado mortal, a vaidade imediatamente castigada. Como explicar que toda a aprendizagem de virtude dê origem a um novo vício?
August Strindberg, in 'Inferno'



Inferno começa com o regresso de Strindberg a Paris, ao seu quarto no Quartier Latin, dias depois de ter abandonado mulher e filha. É então que começa a odisseia pela busca do sentido mais profundo das coisas. Experiências químicas, escritos dispersos, feridas na pele, esquecimento e isolamento do mundo são algumas das provas a que se submete, talvez com algum objectivo catártico. Inferno não é um livro, não é vivido pelo leitor como um livro, mas sim como uma experiência. A afirmação de Pier Paolo Pasolini no posfácio pode dar uma ideia do impacto que esta obra é capaz de provocar, como se, com ela, tivéssemos acesso ao mais íntimo de um autor genial, complexo e contraditório. Misto de diário, ensaio e ficção, o texto é um mergulho nos subterrâneos de seu tumultuado mundo psíquico, no qual a vontade individual parece estar submetida ao poder de forças inconscientes, que transformam o homem num joguete atormentado. É também o testemunho da mania de perseguição de Strindberg, da sua religiosidade supersticiosa, de sua misoginia e misantropia, uma obra de originalidade quase sem paralelo na literatura moderna.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Não tenhas medo do passado





Não tenhas medo do passado. Se as pessoas te disserem que ele é irrevogável, não acredites nelas. O passado, o presente e o futuro não são mais do que um momento na perspectiva de Deus, a perspectiva na qual deveríamos tentar viver. O tempo e o espaço, a sucessão e a extensão, são meras condições acidentais do pensamento. A imaginação pode transcendê-las, e mais, numa esfera livre de existências ideais. Também as coisas são na sua essência aquilo em que decidimos torná-las. Uma coisa é segundo o modo como olhamos para ela.

 Oscar Wilde, in 'De Profundis'

 Oscar Wilde - De Profundis

Clicar em cada uma das “partes”: Part 1; Part 2; Part 3; Part 4; Part 5; Part 6; Part 7

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A Necessidade da Mentira




A imoralidade da mentira não consiste na violação da sacrossanta verdade. Ao fim e ao cabo, tem direito a invocá-la uma sociedade que induz os seus membros compulsivos a falar com franqueza para, logo a seguir, tanto mais seguramente os poder surpreender. À universal verdade não convém permanecer na verdade particular, que imediatamente transforma na sua contrária. Apesar de tudo, à mentira é inerente algo repugnante cuja consciência submete alguém ao açoite do antigo látego, mas que ao mesmo tempo diz algo acerca do carcereiro. O erro reside na excessiva sinceridade. Quem mente envergonha-se, porque em cada mentira deve experimentar o indigno da organização do mundo, que o obriga a mentir, se ele quiser viver, e ainda lhe canta: "Age sempre com lealdade e rectidão".

Tal vergonha rouba a força às mentiras dos mais subtilmente organizados. Elas confundem; por isso, a mentira só no outro se torna imoralidade como tal. Toma este por estúpido e serve de expressão à irresponsabilidade. Entre os insidiosos práticos de hoje, a mentira já há muito perdeu a sua honrosa função de enganar acerca do real. Ninguém acredita em ninguém, todos sabem a resposta. Mente-se só para dar a entender ao outro que a alguém nada nele importa, que dele não se necessita, que lhe é indiferente o que ele pensa acerca de alguém. A mentira, que foi outrora um meio liberal de comunicação, transformou-se hoje numa das técnicas da insolência, graças à qual cada indivíduo estende à sua volta a frieza, e sob cuja protecção pode prosperar.
Theodore Adorno, in "Minima Moralia"

domingo, 8 de janeiro de 2012

a pintura não alimenta, diz o continuo

O novo livro de conversas com Nadir Afonso vai da situação financeira do pintor à única mulher que o compreende. Aos 91 anos, o pintor flaviense continua a trabalhar numa pintura que “procura atingir a exactidão”, qualidade fundamental da obra artística, segundo o autor, a quem não interessam “a perfeição e a originalidade”, elementos que conota com uma ideia de insensibilidade contrária à arte. Pelas mãos de um jornalista, que já tinha publicado “Itinerário (com)sentido” sobre o pintor, “Nadir Afonso conversa com Agostinho Santos” reúne entrevistas realizadas ao longo dos anos. Mais do que procurar “imitar a natureza”, característica dos “insensíveis”, o objectivo é compreender e ir além do perfeito e do original, algo que “os estetas pretendem do artista”.

Aos 18 anos, havia decidido entrar para as Belas Artes. Escreveu o requerimento e dirigiu-se à escola. “Ali estava um funcionário a dormitar, um contínuo. E eu, claro, com os meus 18 anos, timidamente cheguei ao pé dele: ‘Boa tarde. O senhor diz-me onde é a secretaria para me inscrever em pintura?’ Ele puxa o meu requerimento e lê-o. ‘Então o senhor tem o curso dos liceus e vai-se inscrever em pintura? Ó homem, a pintura não alimenta. Curso dos liceus... O senhor vá para arquitectura’”, recordou. “Mudei de orientação nas Belas Artes, mas, no fundo, no fundo do coração, continuei sempre a pintar, fui sempre pintor.”

sábado, 7 de janeiro de 2012

entre a sabedoria e a estupidez


A certa idade, que varia segundo as pessoas mas que se situa por volta dos quarenta, a vida começa a parecer-nos insípida, lenta, estéril, sem atractivos, repetitiva, como se cada dia não fosse senão o plágio do anterior. Algo em nós se apaga: entusiasmo, energia, capacidade de fazer planos, espírito de aventura ou simplesmente apetite de prazer, de invenção ou de risco. É o momento de fazer uma paragem, reconsiderar a vida sob todos os seus aspectos e tentar tirar partido das suas fraquezas. Momento de suprema eleição, pois trata-se, na realidade, de escolher entre a sabedoria e a estupidez.

Julio Ramón Ribeyro, in Prosas Apátridas

Fumar mata. Não fumar também.


Desconfia dos que não fumam. Esses não têm vida interior, não tem sentimentos.
O cigarro é uma maneira subtil, e disfarçada de suspirar.

Mário Quintana, in


FUMAR MATA

Fumar mata. Com cinco inconclusos cigarros
morrerei decerto doutro motivo.
Cigarros escondidos, obrigatórios, demonstrativos, sexuais,
cigarros ocultos atrás de livros, fumados
na casa de banho que o vento depois não drenava,
cigarros amargos e engasgados na garganta,
comprados, deitados fora,
cigarros infrutíferos como esses anos em tudo o mais,
nem rodapé biográfico mas erupção sociológica.
Fumar mata. De não fumar nada direi.


Pedro Mexia
, in

A Intimidade na Amizade

Ele encontrou alguém com quem pode falar, pensei. E eu também, pensei a seguir. No momento em que um homem começa a falar de sexo a outro, está a dizer alguma coisa acerca de ambos. Noventa por cento das vezes isso não acontece, e talvez seja melhor que não aconteça, mas se não conseguirmos alcançar um certo grau de franqueza no que respeita a sexo e optamos por proceder como se nem sequer pensássemos nisso, então a amizade masculina é incompleta. A maioria dos homens nunca encontra um amigo assim. Não é comum. Mas quando acontece, quando dois homens se descobrem de acordo sobre esta parte essencial de ser um homem, sem medo de serem julgados, aviltados, invejados ou dominados, seguros de que a sua confiança não será traída, a sua relação humana pode tornar-se muito forte e nascer uma intimidade inesperada.

Philip Roth, in "A Mancha Humana"



Sinopse
Coleman Silk tem um segredo. Mas não se trata do segredo do caso que mantém, aos setenta e um anos, com uma mulher com metade da sua idade e um passado brutalmente devastado. Também não é o segredo do alegado racismo de Coleman, pretexto para a caça às bruxas desencadeada pela universidade e que lhe custou o emprego e, na sua opinião, lhe matou a mulher. O segredo de Coleman foi guardado durante cinquenta anos: oculto da sua mulher, dos seus quatro filhos, dos seus colegas e dos seus amigos, incluindo o escritor Nathan Zuckerman que – após a morte suspeita de Coleman, com a amante, num desastre de automóvel – resolve compreender como é que aquele homem eminente e íntegro, apreciado como educador durante quase toda a sua vida, forjou a sua identidade e como essa vida tão cuidadosamente controlada acabou por ser deslindada.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O que o senhor perde com esse periscópio na ponta do sexo, quando podia gozar de um harém de maravilhas várias e jamais repetidas


"Prezado coleccionador:

Detestamo-lo. O sexo perde todo o seu poder, toda a sua magia, quando se torna explícito, abusivo, quando se torna mecanicamente obcecante. Passa a ser enfadonho.

Nunca conheci pessoa que melhor provasse o erro que é não se lhe juntar a emoção, a fome, o desejo, a luxúria, os caprichos, as manias, os laços pessoais, relações mais profundas, que lhe mudam a cor, o perfume, os ritmos, a intensidade.

Nem o senhor sabe o quanto perde com esse seu exame microscópico da actividade sexual e a exclusão dos outros aspectos, que são o combustível que a faz atear. Intelectual, imaginativo, romântico, emocional. Eis o que dá ao sexo as suas surpreendentes texturas, as mudanças subtis, os elementos afrodisíacos. O senhor restringe o seu mundo de sensações. Disseca-o, definha-o, tira-lhe o sangue.

Se o senhor alimentasse a sua vida sexual com todas as aventuras e excitações que o amor instila a sensualidade, seria o homem mais poderoso do mundo. A fonte da potência sexual é a curiosidade, é a paixão. O que o senhor vê é sua débil chama a morrer de asfixia. O sexo não pode medrar na monotonia. Sem invenções, humores, sentimentos, não há surpresa na cama. O sexo deve ter à mistura lágrimas, riso, palavras, promessas, cenas, ciúme, inveja, todos os condimentos do medo, viagens ao estrangeiro, novas caras, romances, historias, sonhos, fantasias, musica, dança, ópio, vinho. O que o senhor perde com esse periscópio na ponta do sexo, quando podia gozar de um harém de maravilhas várias e jamais repetidas! Não há dois cabelos iguais; mas o senhor não quer que desperdicemos palavras a descrever uns cabelos. Não há dois cheiros iguais; porém, se nós nos detemos com isso, o senhor exclama: "Suprimam a poesia." Não há duas peles de igual textura; nunca é a mesma luz, a mesma temperatura, as mesmas sombras, nunca são os mesmos gestos; porque um amante, quando animado do verdadeiro amor, é capaz de vencer séculos e séculos de ciência amorosa. Quantas mudanças de tempo, quantas variações de maturidade e de inocência, de arte e de perversidade...

Discutimos até à exaustão para saber como seria o senhor. Se fechou os sentidos à seda, à luz, à cor, ao cheiro, ao carácter, ao temperamento, deve estar nesta altura totalmente empedernido. Há tantos sentidos menores que se lançam como afluentes no rio do sexo!

Só o bater em uníssono do sexo e do coração pode provocar o êxtase.»

Anaïs Nin, 1941

O Sexus de Miller



(…) E depois lembrei-me de uma coisa que me fez rir. Os homens acham sempre que ter uma grande piça é uma das maiores benesses da vida. Acham que basta agitá-la em frente de uma mulher que ela vem logo a correr. Pois se alguém tinha uma grande piça era o Bill Woodruff. Tinha um verdadeiro caralho de cavalo. Lembro-me da primeira vez que o vi – mal podia acreditar nos meus olhos. A Ida deveria ser a escrava dele, se aquela conversa toda sobre piças grandes fosse verdade. Não há dúvida de que a impressionava, mas da maneira errada. Assustava-a. Gelava-a. E quanto mais ele metia e empurrava, mais pequena ela ficava. Era melhor que a fodesse entre as mamas, ou nos sovacos. Ela teria gostado mais disso, sem dúvida. Mas Woodruff não era pessoa para ter essas ideias. Ia achá-las degradantes. Não se pode pedir à mulher que idolatramos que nos deixe fodê-la no meio das mamas. Como é que ele se satisfazia, nunca perguntei. Mas o ritual de beijar o rabo fazia-me sorrir. Não é fácil ficarmos malucos com uma mulher e depois descobrir que a natureza nos pregou uma partida. (…)

Henry Miller, Sexus



Violado ao som de Boccherini


La Musica Notturna Delle
Strade Di Madrid

No dia em que a Gripe se convidou para jantar no meu fantástico mas pueril organismo, tendo arrastado os seus melhores amigos: calafrios e febre, dor de garganta, dores musculares, dores de cabeça, tosse, fadiga, La Musica Notturna Delle Strade Di Madrid serve de atenuante; esta gravação é exemplar na forma como equilibra os brilhos da música de Boccherini, desde as castanholas do Fandango ao estilo vienense do Quarteto de Cordas. Os músicos do Cuarteto Casals e os seus convidados demonstram os infinitos recursos criativos do compositor. Um excelente CD para quem se pretende iniciar neste autor clássico italiano e um óptimo analgésico para debelar esta senhora doença infecciosa aguda que hoje resolveu me violar, não obstante a minha viril resistência.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Morte de Eve




Eve Arnold, que nasceu em Filadélfia em 1912, filha de emigrantes russos, começou por trabalhar para a revista Life nos anos 1940, considerada uma época de ouro para o fotojornalismo. Na década de 1950 foi a primeira mulher norte-americana a entrar na prestigiada Magnum, depois de ter chamado a atenção de Henri Cartier-Bresson com um trabalho sobre moda em Harlem. Ficou célebre por um conjunto de retratos de Marylin Monroe, em particular na rodagem do filme The Misfits, mas também de Joan Crawford e Elizabeth Taylor. A eles juntam-se ainda retratos de outras figuras públicas, como Jacqueline Kennedy, Malcolm X e Margaret Thatcher. De origem humilde, Eve Arnold documentou a pobreza, as minorias e os marginalizados.


Ler mais AQUI (in The Guardian), AQUI (in British Journal of Photography) e AQUI (in The Telegraph)

You can’t make a great musician or a great photographer if the magic isn’t there.- Eve Arnold

If the photographer is interested in the people in front of his lens, and if he is compassionate, it's already a lot. The instrument is not the camera but the photographer.- Eve Arnold

A studio session ... provides the greatest chance for control. [But] even though there is total freedom, I still dislike studio photography and the contrived images that usually stem from this genre. - Eve Arnold



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