No dia 7 de Dezembro, no ano de 1937, nasceu um dos mais talentosos poetas da sua geração. Conhecido do grande público como autor de poemas para canções, contribuiu extraordinariamente para a renovação da dita música ligeira. Em sua homenagem, aqui fica o poema Estrela da tarde! Saudades, José Carlos Ary dos Santos
Estrela da tarde
Era a tarde mais longa de todas as tardes
que me acontecia
eu esperava por ti, tu não vinhas
tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca,
tardando-lhe o beijo, mordia
quando à boca da noite surgiste
na tarde tal rosa tardia
quando nós nos olhamos tardamos no beijo
que a boca pedia
e na tarde ficámos unidos ardendo na luz
que morria
em nós dois nessa tarde em que tanto
tardaste o sol amanhecia
era tarde de mais para haver outra noite
para haver outro dia.
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza.
Foi a mais bela de todas as noites
Que me aconteceram
Dos nocturnos silêncios que à noite
De aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois
Corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa
De fogo fizeram.
Foram noites e noites que numa só noite
Nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites
Que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles
Que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto
Se amarem, vivendo morreram.
Eu não sei, meu amor, se o que digo
É ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo
E acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste
Dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida
De mágoa e de espanto.
Meu amor, nunca é tarde nem cedo
Para quem se quer tanto.
Links:
Carlos do Carmo - Estrela da Tarde (YouTube)
Ary dos Santos - Muitos Homens na Prisão (YouTube)
Ary dos Santos. Retrato do poeta (YouTube)
Poeta Castrado Não (YouTube)
2 comentários:
Também me apetece passear por esta Rua da Saudade. Rita Gomes
Já consigo comentar à vontade.
Obrigado,Luís.
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