HERODÍADES é um dos três
Prantos que Giovanni Testor escreveu. A morte de São João Batista e o desejo
recalcado de Herodíades, é a obra que os Artistas Unidos divulgam em Lisboa. Trata-se
de um ajuste de contas com a tradição de onde vinha, e de que nunca se
afastara, o catolicismo. Quer a religião ingénua que a mãe lhe terá
transmitido, quer a tumultuosa reflexão que os grandes artistas do barroco (e
do barroco lombardo).
Testori, o autor das novelas que deram origem ao Rocco de
Visconti, o tradutor de Rimbaud e de São Paulo, foi um dos maiores autores do
teatro do século XX, propondo, no final da vida, uma reconciliação dramática
entre a doutrina católica e o ardor sexual, o vitupério e a caridade, à procura
do lugar “daquele que traz o escândalo”. E, pasmados, escutamos o seu combate
com a linguagem, com o corpo, com a nudez da cena, com o espectáculo de feira,
com a pobreza. Nas origens e em continuidade de tanta arte que se faz e se fez
em Itália, sulfuroso, paradoxal, transpirado, sujo, lírico e ordinário, um
teatro obrigatório. [adaptado de Artistas
Unidos]