quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

arquivámos o amor no abismo do tempo...

SIDA

aqueles que têm nome e nos telefonam
um dia emagrecem - partem
deixam-nos dobrados ao abandono
no interior duma dor inútil muda
e voraz

arquivámos o amor no abismo do tempo
e para lá da pele negra do desgosto
pressentimos vivo
o passageiro ardente das areias - o viajante
que irradia um cheiro a violetas nocturnas

acendemos então uma labareda nos dedos
acordamos trémulos confusos - a mão queimada
junto ao coração

e mais nada se move na centrifugação
dos segundos - tudo nos falta

nem a vida nem o que dela resta nos consola
e a ausência fulgura na aurora das manhãs
e com o rosto ainda sujo de sono ouvimos
o rumor do corpo a encher-se de mágoa

assim guardamos as nuvens breves os gestos
os invernos o repouso a sonolência
o vento
arrastando para longe as imagens difusas
daqueles que amámos mas não voltaram
a telefonar

3 comentários:

Simone Lins disse...

Querido Luis, acredito que falta um pouco de "disposição" para o amor, não sei porque temos o dom de nós perder dele. Bjs

João Roque disse...

Que bom recordar Al Berto, neste dia...

NYX(des)VELADA disse...

Caro Luís Galego,
É sempre com muito gosto que passo por esta "morada"! (Recordar Al Berto, assinalando o fim da Linha Sida...).
Atenciosamente, um abraço, a Nyx.