sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Valter Hugo Mãe um homem com queda d’água de mulher por dentro

Os romances «O Remorso de Baltazar Serapião» e «A Máquina de Fazer Espanhóis», do escritor Valter Hugo Mãe, entraram para a lista dos melhores livros do ano pelo jornal brasileiro O Globo. No suplemento de cultura, o jornal recorda que Valter Hugo Mãe desembarcou no Brasil em julho passado como um autor desconhecido e voltou como um escritor consagrado entre os leitores brasileiros. A conquista deu-se durante a Feira Literária de Paraty, onde o escritor português seduziu o público com um discurso emocionado sobre sua relação com o Brasil.







Ler mais AQUI (in Globo)


Aqui fica o texto que valter hugo mãe pediu para ler no final da sua mesa na Festa Literária Internacional de Paraty e que levou o público na Tenda dos Autores às lágrimas.


“Quando eu tinha uns 8 anos, veio morar para a casa ao lado da dos meus pais um casal de brasileiros com duas filhas moças. Ao chegar, o casal ofereceu uma ambulância ao quartel de bombeiros da nossa vila e toda a vila se emocionou. Foram os primeiros brasileiros que eu vi fora da tv, fora das novelas. Eu e os meus amigos fomos ao quartel dos bombeiros apreciar a ambulância nova, bem pintada, que se mostrava a todos como prova bonita da bondade de alguém. O meu pai tinha um carro pequeno, velho, difícil de levar a família inteira dentro. A ambulância era enorme, um luxo, como se fosse para transportar doentes felizes. Eu e os meus amigos ficamos estupefactamente felizes.


Depois, algumas mulheres e alguns homens mais delicados reuniam-se diante da senhora e das moças brasileiras e faziam perguntas sobre as novelas. Naquele tempo, passavam com muito atraso em relação ao Brasil, e todos queriam avidamente saber quem casava com quem na ‘Gabriela’.


A senhora e as suas duas filhas, porque sabiam o que ia acontecer nas novelas, eram aos olhos de todos como adivinhas, gente que via coisas do futuro, gente que viveu o futuro e que se juntou a nós para reviver o passado. Por causa disto, eram mágicas e as pessoas queriam a opinião delas para cada decisão.


A minha mãe pediu à nova vizinha a receita para fazer pizza, porque ainda não havia pizzarias e só víamos nas revistas como deviam ser bonitos e saborosos aqueles círculos de pão e queijo coloridos pousados nas mesas. Passámos a comer uma pizza de atum com muitas azeitonas pretas. Ainda hoje peço nos restaurantes pizza de atum com a esperança de que seja exactamente igual à da minha infância, mas nunca é.


As moças brasileiras eram mais velhas do que eu e ficaram amigas das minhas irmãs. As minhas irmãs saíam com elas à rua inchadas de orgulho, porque as pessoas todas, sempre comovidas com a ambulância, faziam vénia e sorriam. Havia gente que dizia que as moças brasileiras eram as mais belas de todas. Elas eram, na verdade, sorridentes, e eu senti que também seriam muito felizes na nossa pequena vila.


Um dia a minha irmã mais velha fez anos e foi festejá-los com uma festa na garagem das brasileiras. Na noite desse dia, ali pelas oito horas, uma outra menina, filha de um vizinho português, mostrou-me tudo. Não foi a primeira vez, mas eu queria sempre ver, embora ela não quisesse sempre mostrar. Um amigo meu surpreendeu-nos e quis ver também, mas a menina respondeu que não. Ela disse que  mostrava apenas a mim porque eu era amigo das brasileiras. Entendi que as brasileiras eram como um toque de midas que me transformava num menino de ouro.


Aos dezoito anos, aquele que é o meu amigo mais irmão chegou do Brasil e ingressou na minha escola. Eu instintivamente corri atrás dele. Queria ser amigo dele como se fosse vital para mim. Ele mostrou-me Titãs e Legião Urbana. Eu achava que o Renato Russo ia salvar a minha vida com aquela canção do ‘Tempo perdido’. Quando o Renato Russo morreu, chorei muito e passei só a chorar quando ouço o ‘Tempo perdido’. Eu não sei se a arte nos deve salvar, mas tenho a certeza de que pode conduzir ao melhor que há em nós, para que não nos desperdicemos na vida.


O Alexandre, esse meu amigo brasileiro, mudou tudo em mim para melhor. Adorava viajar de comboio com ele quando entalávamos as meias mal cheirosas nas janelas para que arejassem durante a marcha. Nesse tempo, o Alexandre ensinou-me a perder aquela vergonha que só atrapalha. Porque os portugueses sempre foram meio envergonhados.


Hoje, temos quase quarenta anos, ele casou com uma portuguesa e tem filhos. Eu, não. Fiquei para tio a escrever romances e os romances tornaram-se fundamentais na minha vida, como a máquina de fazer espanhóis. Sonhei sempre vir ao Brasil e vim várias vezes, faltava vir como escritor, publicado e recebido, pois aqui estou, a FLIP fez isso, não esquecerei nunca, sinto que fazem de mim um homem de ouro, agradeço a todos muito por isso."
valter hugo mãe, Paraty 2011





Links:
Valter Hugo Mãe (Website)
Casa de Osso (Blog de Valter Hugo Mãe)

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

A capacidade de ultrapassar as fronteiras ideológicas

Centenário do nascimento do escritor de Alves Redol, um dos mais importantes nomes do Neorrealismo português, celebra-se hoje. Quando, em 1939, Alves Redol publica Gaibéus, obra inaugural da literatura neo-realista, Salazar tinha já feito descer a mão de ferro do regime: estavam proibidos os partidos políticos, existia uma Constituição de inspiração fascista, uma polícia política e a prisão do Tarrafal. O livro, mais do que um retrato sobre luta de classes na lezíria ribatejana, afirma-se como uma leitura profética do espírito do tempo e mostra que este autor é dono de uma obra de grande observação da realidade social que ultrapassa as fronteiras ideológicas.

"Não é difícil entender-se o que escrevo e porque escrevo. E também para quem escrevo. Daí o apontarem-me como um escritor comprometido. Nunca o neguei; é verdade. Mas também é verdade que todos os escritores o são."


in FANGA


"Vocês, os mais novos, vão encontrar belas coisas para fazer... Nessa altura, se o merecer, lembrem-se de mim."


in Jornal República, 1963
LinkAlves Redol (Website)

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Não se Brinca com o Amor


Somos muitas vezes traídos no amor, muitas vezes magoados e muitas vezes infelizes; mas amamos, e quando chegamos à beira da cova, voltamo-nos para olhar para trás, e pensamos: Sofri muitas vezes, enganei-me algumas vezes, mas amei.

Alfred de Musset, Não se Brinca com o Amor



La morale la meilleure, / En ce monde où les plus fous /

Sont les plus sages de tous, / C’est encore d’oublier l’heure.


Paul Verlaine,  Les uns et les autres

 


Um mar de folhas e sonhos escritos – Jornal de Letras nas bancas

A 'arca' de Lourenço. O JL revela o precioso acervo de inéditos do Prémio Pessoa 2011, em conversa com João Nuno Alçada e com testemunhos dos especialistas que o preparam para edição. Entrevista com Eduardo Lourenço e um inédito seu sobre Régio e Pessoa.

A atribuição do Prémio Pessoa chamou uma vez mais a atenção para a sua obra Se o que admira é só agora haver-lhe sido dado isso também lhe aumenta o seu significado. Mas se dedicamos a Eduardo Lourenço mais um tema e uma capa tal se deve sobretudo à revelação que fazemos do seu precioso acervo de textos inéditos fruto de toda uma vida de pensamento reflexão e escrita. (in JL)

Deixar de ser GAY “com a ajuda de Deus”


‘Coming out Straight – Compreender e Tratar a Homossexualidade’, é da autoria do psicoterapeuta norte-americano Richard Cohen, e trata a homossexualidade como “uma desordem da atracção” e um “transtorno da afectividade”. O clínico garante que ao longo de 15 anos de terapia conseguiu que milhares de homens e mulheres que se sentiam atraídos por pessoas do mesmo sexo deixassem de o fazer. Na sua página oficial, o autor confessa que ele próprio foi homossexual durante anos, mas que “com a ajuda de Deus”, conseguiu voltar a ser heterossexual. Agora está casado, tem três filhos, e vários discípulos que dão continuidade ao seu trabalho.
Quando supomos que já nada nos surpreende deparamos com estes retrocessos civilizacionais: o facto de se encarar a homossexualidade como uma doença.

Excerpts from "Coming Out Straight"

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

The Strangest Christmas Card Animation You'll Ever See



Terry Gilliam's 'Christmas Card' 1968

Read more HERE (in Huffingtonpost)

All That Woody Allen




The filmmaker downplays his abilities as a New Orleans-style clarinetist, but that doesn't stop him from touring the world with a band.

Read MORE…(in Los Angeles Times)

Em cidades estranhas passamos despercebidos como um anjo de cristal fechado numa caixa de vidro sem ar



CIDADES QUE NÃO NOS PERTENCEM

Em cidades estranhas

nossos pensamentos vagueiam calmamente

como túmulos de artistas de circo esquecidos,

os cães ladram aos caixotes do lixo e aos flocos de neve

que sobre eles caem.


Em cidades estranhas passamos despercebidos

como um anjo de cristal fechado numa caixa de vidro sem ar,

como um segundo terramoto que meramente

rearranjasse o que já estivesse arruinado.

_____

I SAW DREAMS

I saw dreams that no one remembers

and people wailing at the wrong graves.

I saw embraces in a falling airplane

and streets with open arteries.

I saw volcanoes asleep longer than

the roots of the family tree

and a child who's not afraid of the rain.

Only it was me no one saw,

only it was me no one saw.

Nikola Madzirov

Ler mais poemas de Nikola Madzirov AQUI (em língua inglesa) e AQUI (em língua portuguesa)




Biography  Nikola Madzirov, in internationales literaturfestival-Berlin

Remnants of Another Age by Nikola Madzirov, Read MORE (in World Literature - Review, July/August 2011)

Book Description (in amazon.com)

Com Todo o Respeito, apresento-vos os melhores discos de música portuguesa de 2011




Um ano com discos novos de Fausto, Sérgio Godinho e Jorge Palma só pode ser um grande ano para a música portuguesa. Veja AQUI as escolhas do Jornal de Letras Artes e Ideias de 2011.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Laços de ternura: Vídeo de turista com gorilas selvagens no Uganda



Sem ninguém o esperar, uma família de gorilas selvagens sentou-se ao lado de um turista de visita ao Parque Nacional de Bwindi, no Uganda. A mãe lambeu-lhe a cara e uma das crias tirou-lhe folhas do cabelo. O vídeo, há uma semana no YouTube, já foi visto por mais de um milhão de pessoas. Ler mais AQUI.

Tony Judt, já imobilizado, abre as gavetas da sua memória


O Chalet da Memória - magistralmente bem escrito (apesar de ter sido ditado por força da doença). Tony Judt um dos últimos grandes intelectuais, no auge da sua degenerescência física, guia-nos pelas suas memórias, sejam as ruas da Putney da infância, as reminiscências dos seus tempos de estudante ou o poder das palavras. Cada ensaio evoca um episódio do passado, um cheiro, uma vivência, um local, uma viagem de carro pelos Estados Unidos – tudo serve de pretexto para um propósito duplo, a já citada evocação da memória mas, também as experiências do Maio de 68 ou dos kibbutzim, ou do passado judaico da família. O Chalet da Memória reúne os últimos ensaios publicados no New York Review of Books construídos durante as noites de insónia numa fase já muito avançada da esclerose lateral amiotrópica, a doença de Lou Gehrig, que vitimou o autor. O historiador combateu a enfermidade com determinação, mas este não é um livro sobre a doença, é sobre a vida porque a doença é o inferno e este “não é uma experiência transmissível”, como escreveu Timothy Garton Ash. Pouco tempo depois desta narrativa, Tony Judt, falecia.

Li-o ontem num fôlego e é impossível não ficar inquieto com os depoimentos deste historiador-escritor e ser humano excepcional. Aconselho esta obra que nos torna mais humanos!

Ler AQUI e AQUI os artigos que Eduardo Pitta e Rui Bebiano escrevam sobre O Chalet da Memória, na Ler Livros & Leitores, de 5 de Dezembro de 2011. Ler ainda Anos 60: foram uma boa altura para ser jovem, artigo assinado por Beja Santos e The Memory Chalet by Tony Judt - review, in The Guardian.




Morreu o artista mais velho do Mundo



Com 108 anos de vida e 90 anos de carreira, morreu Johannes Heesters, o artista mais velho do Mundo. O tenor e actor holandês nunca se livrou da reputação de simpatizante do regime nazi. Com mais de nove mil actuações em peças de teatro, musicais e filmes, Heesters terá sido apoiante de Hitler. O holandês terá actuado para o ditador alemão durante o Terceiro Reich e terá feito parte de uma comitiva nazi que assistiu, em Dachau, a um musical protagonizado por judeus detidos naquele campo de concentração. O artista sempre negou esta acusação, apesar de ter assumido que terá feito afirmações ambíguas sobre Hitler.

Um momento que marcou o rumo da vida e carreira de Heesters aconteceu, em 1964, depois de ter aceite o papel do capitão Von Trapp numa peça de teatro. Os holandeses não o desculparam por considerarem ser um insulto interpretar o papel de alguém que nunca se curvou à tirania nazi. Desde então, o artista passou a trabalhar na Alemanha e na Áustria e só voltou a actuar no seu país Natal em 2008. Este ano, Heesters ainda participou numa curta-metragem com o título "Ten", naquele que foi o seu derradeiro trabalho.


Links:

domingo, 25 de dezembro de 2011

Entre as graças que devemos à bondade de Deus, uma das maiores é a música.



Entre as graças que devemos à bondade de Deus, uma das maiores é a música. A música é tal qual como a recebemos: numa alma pura, qualquer música suscita sentimentos de pureza. 

Miguel Unamuno

Sakineh vai morrer na forca ou lapidação - assine a petição



A iraniana Sakineh Ashtiani, condenada à morte sob a acusação de adultério, será executada por apedrejamento ou por enforcamento, segundo o Departamento de Justiça da província onde a mulher está detida. Sakineh recebeu a pena de morte por lapidação, mas sua sentença tinha sido suspensa depois de uma mobilização global de reprovação à Justiça iraniana por parte de uma série de governos.


Citado hoje pela agência semioficial de notícias Isna, Sharifi afirmou que as autoridades da Justiça do Irão ainda estão a discutir se vão executar Sakineh por apedrejamento ou enforcamento. A mulher foi condenada por adultério em 2006 e sentenciada a morrer por lapidação, sentença que causou grande comoção internacional. Pouco tempo depois, foi considerada culpada também por ter ajudado no assassínio do marido.
Além da pena por adultério, Sakineh foi punida com 99 chicotadas pelas «relações ilícitas com estranhos», pena que lhe foi aplicada diante do filho, ainda em 2006.


Críticos afirmam que o julgamento que a condenou não ouviu o número mínimo de testemunhas exigidas pela lei iraniana para confirmar a prática do adultério e que júris foram feitos no idioma farsi, quando Sakineh fala somente az
Tome uma atitude contra a prática do apedrejamento; tome uma atitude contra o abuso de mulheres, assine esta petição.

O Homem do Ano


O Le Monde elegeu o artista dissidente chinês Ai Weiwei a personalidade de 2011, num ano em que os protagonistas foram «as revoltas».
O jornal francês destacou que mais do que ser uma estrela da arte contemporânea o artista chinês converteu-se no arauto de uma nova dissidência que se expressa, sobretudo, através da Internet.
«Como os anónimos de Tunis e do Cairo, os 'indignados' de Madrid ou Wall Street, Ai Weiwei representa, à sua maneira, lúdica e rebelde, o impulso que leva um homem sem qualidade a converter-se no sujeito da sua própria história», resumiu o jornal. Ai Weiwei é um artista plástico cuja projecção internacional está mais vinculada à política do que à arte em si. É um crítico contumaz do regime chinês.



Ler mais aqui (Le Monde), aqui (DN/Artes) e aqui (Alex Medeiros, blog)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011




A todos os que têm passado por este cantinho e comigo partilhado momentos muito bonitos desejo que consigam inverter tudo o que de negativo se anuncia e se obriguem a ser muitos felizes. Deixo-vos como presente uma frase de Agatha Christie: Eu gosto de viver. Já me senti ferozmente, desesperadamente, agudamente infeliz, dilacerada pelo sofrimento, mas apesar de tudo ainda sei, com absoluta certeza, que estar viva é sensacional.

Abraço Enorme e Boas Festas!
Luís Galego

Cadillacs e Oldsmobiles em forma de escultura


John Chamberlain, artista norte-americano que nasceu em 1927 na Índia e que se tornou conhecido com as esculturas feitas a partir de sucata velha, morreu em Nova Iorque aos 84 anos. O artista que deixou uma marca indelével na história da arte no século XX foi uma figura admirável e não teve paralelo na transformação de materiais. O escultor tornou-se famoso nos anos 1960, quando de carros desfeitos, Cadillacs e Oldsmobiles, conseguiu criar esculturas, coloridas e vistosas, que o colocaram entre o abstraccionismo e a pop art. “Foi como se tivesse encontrado um abastecimento de arte e era tão barato que me fazia rir. Eu não penso nos meus materiais artísticos como lixo. É mais como estrume: é o material desperdiçado por uns que se torna numa fonte de vida para outros”, disse um dia, citado pelo The Guardian.

Durante a sua vida, John Chamberlain teve mais de cem exposições em todo o mundo. Este ano a sua escultura de metal prensado "Nutcracker" foi vendida pelo valor recorde de 4,78 milhões de dólares num leilão da Sotheby's.


Conto de Hélia Correia: Do meio para trás



Hélia Correia escreveu a pedido do Jornal de Letras Artes e Ideias (JL) esta história do (Pai) Natal. A ilustração é de Afonso Cruz. Ler AQUI.

Hélia Correia (in Wook)

Afonso Cruz (in Biografia/Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas) 

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Um Olhar Sobre Jorge Amado


Eu continuo firmemente pensando em modificar o mundo e acho que a literatura tem uma grande importância.

“Tieta do Agreste”, “Gabriela, Cravo e Canela” e “Dona Flor e Seus Dois maridos” são apenas alguns dos títulos que transformaram Jorge Amado num dos autores brasileiros mais lidos no mundo. Ao todo, foram 45 livros publicados com tradução em mais de 50 países. Mas, como foi a infância do menino nascido em Itabuna, no sul da Bahia? Quais personagens marcaram a vida do garoto que traduziria de maneira tão singular a cultura popular brasileira? Em 2012, comemora-se o centenário do nascimento de Jorge Amado. No Brasil, prepara-se um filme, exposições e novas edições.









SOU EXU

Não sou preto, branco ou vermelho

Tenho as cores e formas que quiser.

Não sou diabo nem santo, sou exu!

mando e desmando,

traço e risco

faço e desfaço.

estou e não vou

tiro e não dou.

sou exu.

Passo e cruzo

Traço, misturo e arrasto o pé

Sou reboliço e alegria

Rodo, tiro e boto,

Jogo e faço fé.

Sou nuvem, vento e poeira

Quando quero, homem e mulher

Sou das praias, e da maré.

ocupo todos os cantos.

sou menino, avô, maluco até

posso ser João, Maria ou José

Sou o ponto do cruzamento.

durmo acordado e ronco falando

corro, grito e pulo

faço filho assobiando

sou argamassa

De sonho carne e areia.

sou a gente sem bandeira,

o espeto, meu bastão.

o assento? O vento!..

sou do mundo, nem do campo

nem da cidade,

não tenho idade.

Recebo e respondo pelas pontas,

Pelos chifres da nação

Sou exu.

sou agito, vida, acção

sou os cornos da lua nova

a barriga da rua cheia!...

Quer mais? Não dou,

Não tô mais aqui!