O novo livro
de conversas com Nadir Afonso vai da situação financeira do pintor à única
mulher que o compreende. Aos 91 anos, o pintor flaviense continua a trabalhar numa
pintura que “procura atingir a exactidão”, qualidade fundamental da obra
artística, segundo o autor, a quem não interessam “a perfeição e a
originalidade”, elementos que conota com uma ideia de insensibilidade contrária
à arte. Pelas mãos de um jornalista, que já tinha publicado “Itinerário
(com)sentido” sobre o pintor, “Nadir Afonso conversa com Agostinho Santos” reúne
entrevistas realizadas ao longo dos anos. Mais do que procurar “imitar a
natureza”, característica dos “insensíveis”, o objectivo é compreender e ir
além do perfeito e do original, algo que “os estetas pretendem do artista”.
Aos 18 anos,
havia decidido entrar para as Belas Artes. Escreveu o requerimento e dirigiu-se
à escola. “Ali estava um funcionário a dormitar, um contínuo. E eu, claro, com
os meus 18 anos, timidamente cheguei ao pé dele: ‘Boa tarde. O senhor diz-me
onde é a secretaria para me inscrever em pintura?’ Ele puxa o meu requerimento
e lê-o. ‘Então o senhor tem o curso dos liceus e vai-se inscrever em pintura? Ó
homem, a pintura não alimenta. Curso dos liceus... O senhor vá para
arquitectura’”, recordou. “Mudei de orientação nas Belas Artes, mas, no fundo,
no fundo do coração, continuei sempre a pintar, fui sempre pintor.”
1 comentário:
A pintura não alimenta, ela sacia a alma... Depois que termino de pintar uma tela, tímidos rabiscos, às vezes, consigo atingir tantas sensações e a seguir me sinto saciada, mesmo quando a obra não sai a contento, mesmo que ela deixe um vazio, este vazio me preenche.
Sempre belas matérias, senhor Galego.
Este espaço é mesmo um luxo só.
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