Ele encontrou alguém
com quem pode falar, pensei. E eu também, pensei a seguir. No momento em que um
homem começa a falar de sexo a outro, está a dizer alguma coisa acerca de
ambos. Noventa por cento das vezes isso não acontece, e talvez seja melhor que não
aconteça, mas se não conseguirmos alcançar um certo grau de franqueza no que
respeita a sexo e optamos por proceder como se nem sequer pensássemos nisso,
então a amizade masculina é incompleta. A maioria dos homens nunca encontra um
amigo assim. Não é comum. Mas quando acontece, quando dois homens se descobrem
de acordo sobre esta parte essencial de ser um homem, sem medo de serem
julgados, aviltados, invejados ou dominados, seguros de que a sua confiança não
será traída, a sua relação humana pode tornar-se muito forte e nascer uma
intimidade inesperada.
Philip Roth, in "A Mancha Humana"
Philip Roth, in "A Mancha Humana"
Coleman Silk tem um segredo. Mas não se trata do segredo do caso que mantém, aos setenta
e um anos, com uma mulher com metade da sua idade e um passado brutalmente
devastado. Também não é o segredo do alegado racismo de Coleman, pretexto para a caça às bruxas desencadeada pela
universidade e que lhe custou o emprego e, na sua opinião, lhe matou a mulher.
O segredo de Coleman foi guardado
durante cinquenta anos: oculto da sua mulher, dos seus quatro filhos, dos seus
colegas e dos seus amigos, incluindo o escritor Nathan Zuckerman que – após a morte suspeita de Coleman, com a amante, num desastre de
automóvel – resolve compreender como é que aquele homem eminente e íntegro,
apreciado como educador durante quase toda a sua vida, forjou a sua identidade
e como essa vida tão cuidadosamente controlada acabou por ser deslindada.
2 comentários:
Despertaste o meu interesse...
E o meu tb pois estou de acordo com as citações aqui deixadas.
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