domingo, 8 de janeiro de 2012

a pintura não alimenta, diz o continuo

O novo livro de conversas com Nadir Afonso vai da situação financeira do pintor à única mulher que o compreende. Aos 91 anos, o pintor flaviense continua a trabalhar numa pintura que “procura atingir a exactidão”, qualidade fundamental da obra artística, segundo o autor, a quem não interessam “a perfeição e a originalidade”, elementos que conota com uma ideia de insensibilidade contrária à arte. Pelas mãos de um jornalista, que já tinha publicado “Itinerário (com)sentido” sobre o pintor, “Nadir Afonso conversa com Agostinho Santos” reúne entrevistas realizadas ao longo dos anos. Mais do que procurar “imitar a natureza”, característica dos “insensíveis”, o objectivo é compreender e ir além do perfeito e do original, algo que “os estetas pretendem do artista”.

Aos 18 anos, havia decidido entrar para as Belas Artes. Escreveu o requerimento e dirigiu-se à escola. “Ali estava um funcionário a dormitar, um contínuo. E eu, claro, com os meus 18 anos, timidamente cheguei ao pé dele: ‘Boa tarde. O senhor diz-me onde é a secretaria para me inscrever em pintura?’ Ele puxa o meu requerimento e lê-o. ‘Então o senhor tem o curso dos liceus e vai-se inscrever em pintura? Ó homem, a pintura não alimenta. Curso dos liceus... O senhor vá para arquitectura’”, recordou. “Mudei de orientação nas Belas Artes, mas, no fundo, no fundo do coração, continuei sempre a pintar, fui sempre pintor.”

1 comentário:

Penélope disse...

A pintura não alimenta, ela sacia a alma... Depois que termino de pintar uma tela, tímidos rabiscos, às vezes, consigo atingir tantas sensações e a seguir me sinto saciada, mesmo quando a obra não sai a contento, mesmo que ela deixe um vazio, este vazio me preenche.
Sempre belas matérias, senhor Galego.
Este espaço é mesmo um luxo só.